2 de maio de 2017

Distribuição das chuvas na Ilha do Maranhão em Março de 2017



DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DAS CHUVAS NA ILHA DO MARANHÃO EM MARÇO DE 2017

Pedro Wallace Serra Cordeiro

Geógrafo
Técnico em Meteorologia
E-mail: pedro.crossover@hotmail.com


RESUMO GERAL

No posto São Luís precipitou dentro da média climatológica, com valor de 425 mm, apenas 3 mm ou 0.7% abaixo da Normal. Por outro lado, considerando a superfície da Ilha do Maranhão o volume médio em março foi de 419.8 mm, ou seja, -1.9%, em outras palavras, dentro do Limite Inferior da Faixa Normal, considerando a variabilidade. Em março de 2017 verificaram-se maiores taxas de precipitação nas bordas da Ilha, ou seja, na faixa das praias, mais precisamente entre Ponta d’Areia a Raposa, e entre Ilha de Curupu a São José de Ribamar nas proximidades do povoado Juçatuba. Em Alcântara/MA precipitou o maior volume, com 605.8 mm (+41.5%), seguido do bairro Calhau em São Luís, com 589.4 mm (+37.7%), Raposa/MA com 559.6 mm (+30.7%), e Icatu/MA com 535.4 mm (+25.1%). Por outro lado, nos pontos Sacavém, Cohama, Alemanha, Planalto-Pingão, Aeroporto e Alumar os desvios negativos foram entre -7 a -23%, apresentando volumes abaixo da média climatológica. Houve o predomínio da atuação da ZCIT durante todo o mês, com a participação de Aglomerados de Cumulonimbus (CB) (~60-100 km) e CB Isolada, proporcionados pela Termodinâmica local de superfície e Escoamento de Brisas Marítimas.


DESTAQUE DO MÊS
Fenômeno de Tromba d'água é registrada na orla marítima de São Luís:

Fonte: O Imparcial

No final da manhã do dia 25 (sábado) uma Tromba d’água foi registrada na orla marítima de São Luís. O Fenômeno ocorreu na praia do Calhau, chamando atenção de muitos banhistas e pedrestres. Trombas d’água são mais comuns em áreas com domínio de clima tropical.




1- INTRODUÇÃO

Março é o mês em que termina o verão, iniciando-se a estação do outono austral. Nessa ótica sabe-se através da vasta literatura que neste mês registra-se a maior quantidade de chuvas no sertão nordestino, juntamente com outras áreas da região (MOLION e BERNARDO, 2002). 
O deslocamento meridional da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) resulta na maior intensidade das chuvas nos meses de fevereiro a maio, na qual também participam processos convectivos de pequena e mesoescala, associados ao aquecimento solar diário e às brisas marítimas (CAVALCANTI e KOUSKY, 1982).
Nesta época, as circulações do verão austral nos trópicos são influenciadas pelas ondas estacionárias, particularmente sobre a América do Sul, onde se desenvolve uma circulação quase-estacionária em altos níveis, chamada Alta da Bolívia (AB). Diretamente ligado à circulação, há um cavado que eventualmente se fecha, e denomina-se Vórtice Ciclônico de Altos Níveis (VCAN) do Nordeste do Brasil (GAN e KOUSKY, 1986; MARENGO et al. 2011).
Nessa premissa, observa-se que durante o verão-outono diversos sistemas meteorológicos de escalas espaciais distintas modulam a pluviometria na área. Assim, levantam-se dúvidas sobre qual sistema exato pode produzir isoladamente mais chuvas em prazo de 20 a 30 dias por ex., dado a extrema variabilidade espacial, sujeita a mecanismos de pequena escala.
Em São Luís a climatologia das chuvas em Março é de 428 mm, equivalendo a 18.7% das chuvas do ano, sendo o segundo mês mais chuvoso. O número médio de dias com chuva corresponde a 23 dias, valores estatísticos da Normal 1961-1990 para o mês no município (INMET, 2009; CORDEIRO, 2015).
É com o intuito de saber a distribuição local de chuvas em março sob determinadas condições teleclimáticas, que o presente artigo se ocupa em fazer o levantamento da pluviosidade espacial em março de 2017 na Ilha do Maranhão, que por sua vez, localiza-se no Golfão Maranhense, litoral do estado do Maranhão.

2- ASPECTOS DE GRANDE ESCALA NA ATMOSFERA E NOS OCEANOS TROPICAIS

As águas superficiais na região do Pacífico Equatorial (Figura 1) apresentaram-se com temperaturas neutras nas regiões de monitoramento do ENOS, com valores entre -0.2°C a 0,6°C, porém circundadas por anomalias positivas (maior TSM) em toda a faixa tropical oceânica (NOAA, 2017). No entanto, observou-se desde fevereiro um padrão incomum: fortes anomalias positivas de 3° a 4°C no Pacífico Leste, próximo à costa oeste da América do Sul (região conhecida como Niño 1+2); entretanto, não há estudos que mostrem que essas anomalias influenciam o clima do Brasil.
A maioria dos modelos de previsão sazonal mostra anomalias próximas a zero sobre o Pacífico Equatorial, o que indica uma fase neutra do ENOS (sem El Niño ou La Niña) no trimestre Abril-Maio-Junho de 2017 (CPC/NCEP, 2017).

Figura 1: Anomalias de TSM em março de 2017
Fonte: CPTEC, 2017.

Quanto às chuvas no Brasil, praticamente nada mudou em comparação aos dois meses anteriores: chuvas abaixo da média no centro-oeste, sertão nordestino e parte da região sudeste, principalmente em Minas Gerais. Em Goiás há risco hídrico de seca prolongada, lembrando que em abril as chuvas já começam a diminuir (figura 2).

Figura 2: Precipitação total no Brasil em Março/2017.

Fonte: INPE, 2017
 
Assim sendo, os desvios negativos foram registrados em grande parte do Brasil, em especial à região Centro-oeste, principalmente no leste de Mato Grosso e noroeste de Goiás (-200 a -299 mm), além de grande parte das regiões Norte e Nordeste do país. Em contrapartida, verificaram-se volumes acima do normal em áreas relativamente menores, tais como, no extremo norte de Roraima, sudoeste do Amazonas, oeste do Acre, no Mato Grosso do Sul, sudoeste do Paraná, oeste de Santa Catarina, no Rio Grande Sul, litoral do Paraná, São Paulo e do Rio de Janeiro, pequenos trechos do leste Paraense, e no oeste do Maranhão (Figura 3).
Figura 3: Anomalias de precipitação no Brasil em Março de 2017 (mm).
Fonte: INPE, 2017

No estado do Maranhão houve volumes relativamente mais significantes no centro-norte do estado, com ênfase para a mesorregião oeste e litoral do extremo norte (costa de rias). No vale do rio Pindaré as chuvas ocorreram mais de 50% acima da média pelo terceiro mês consecutivo, onde em Santa Inês e Buriticupu os volumes atingiram 460 mm.
No sudeste e sul do Estado choveu abaixo do esperado, com destaque para Pastos Bons, Loreto e Alto Parnaíba, com volumes entre 50 a 70 mm. Na região de Imperatriz e Porto Franco os índices ocorreram com 100 a 190 mm, abaixo da média em torno de 30% (Figura 4).
Figura 4: Precipitação acumulada no estado do Maranhão em março/2017

Quanto aos sistemas atmosféricos, houve predomínio da atuação da ZCIT durante todo o mês (Figuras 5 e 6), com a participação de Aglomerados de Cumulonimbus (CB) (~100 km) e CB Isolada (Sistemas Convectivos Isolados), proporcionados pela Termodinâmica e Escoamento de Brisas Marítimas.

Figura 5: Imagem proveniente do Satélite GOES+METEOSAT-10 em 10/03/2017 as 9:00 UTC.
Fonte: INPE, 2017.

Figura 6: Imagem proveniente do Satélite GOES+METEOSAT-10 em 14/03/2017 as 15:00 UTC.
Fonte: INPE, 2017.

           Conhecidamente, a interação da circulação de escala cúmulos (nuvens locais carregadas) com a grande escala (ZCIT) favorece convergência de massa nos baixos níveis, por consequência, ocorre um levantamento forçado até a um nível que torne a parcela instável. Os cúmulos proporciona o calor necessário para a redução de pressão na superfície, organizando a convergência de umidade necessária para a convecção.

3- DISTRIBUIÇÃO DAS CHUVAS NA ILHA DO MARANHÃO

No posto São Luís precipitou dentro da média climatológica, com valor de 425 mm, apenas 3 mm ou 0.7% abaixo da Normal. Por outro lado, considerando a superfície da Ilha do Maranhão o volume médio em março foi de 419.8 mm, ou seja, -1.9%, em outras palavras, dentro do Limite Inferior da Faixa Normal, considerando a variabilidade (Tabela 1). Na Ilha o maior acumulado mensal foi registrado no Calhau, com 589.4 mm.

Tabela 1: Totais pluviométricos mensais na Ilha do Maranhão e entorno: Março de 2017.

Nome da Estação

Bairro/Cidade

Volume Mensal (mm)
Desvio em relação a Normal 1961-90 (%)
INMET Itapiracó
Turú
425
-0,7
PCD INMET
Turú
407,6
-4,8
Destacamento de Controle do Espaço Aéreo
Aeroporto
388,4
-9,3
UEMA
Campos Paulo VI
424,75
-0,8
Centro de Empreendedorismo UFMA
UFMA
397,2
-7,2
Seminário Evangélico do Norte
Planalto-Pingão
361,8
-15,5
SEMUSC
Alemanha
371,6
-13,2
Academia de Policia Militar Gonçalves Dias
Calhau
589,4
+37,7

FIEMA

Cohama
355,8
-16,9
UEB Roseno de Jesus Mendes
Janaína
390,6
-8,7
Eletronorte
Sacavém
330,2
-22,9
EletronorteSL3
São José/Maioba
431
+0,7
EletronorteSL2
Alumar
384
-10,3
Sítio Raposa
Raposa
559,6
+30,7
Procuradoria Municipal
Paço do Lumiar
480,2
+12,2
Prefeitura Municipal
Rosário-MA
373,4
-12,8
Jardim de Infância Pequeno Príncipe
Icatu-MA
535,4
+25,1
Centro (Alcântara)
Alcântara-MA
605,8
+41,5
Fonte: INMET/INPE/LABMET/UEMA/ANA, 2017.


Figura 7: Distribuição espacial das chuvas na Ilha do Maranhão em Março/2017.

Como mostra a figura 7, neste março houve maiores taxas de precipitação na faixa costeira da Ilha, isto é, na região das praias, entre Ponta d’Areia, Calhau, Raposa, Panaquatira, São José de Ribamar e Icatu. Sendo assim, em todo o norte da Ilha os volumes ocorreram acima da climatologia.
Em Alcântara/MA precipitou o maior volume, com 605.8 mm (+41.5%), seguido do bairro Calhau em São Luís, com 589.4 mm (+37.7%), Raposa/MA com 559.6 mm (+30.7%), e Icatu/MA com 535.4 mm (+25.1%). Por outro lado, nos pontos Sacavém, Cohama, Alemanha, Planalto-Pingão, Aeroporto e Alumar os desvios negativos foram entre -7 a -23%, apresentando volumes abaixo da média climatológica.
Figura 8: Desvios percentuais de chuva (%) em Março/2017 na Ilha

Sugere-se aqui que, as chuvas em maior quantidade ao norte da Ilha -- entre a Ponta d’areia e Raposa-- ocasionaram-se devido a mudanças no padrão local de ventos, tais quais àqueles que reforçam o escoamento de Brisas Marítimas. Nos meses anteriores verificou-se maior (menor) atuação de mecanismos convectivos a Sudeste (Norte) da Ilha, entretanto, podemos estimar que os Campos de Baixa Pressão superficial inverteram-se: Menor pressão na área do oceano (entre Alcântara e Raposa), consequentemente maior o escoamento e convergência dos ventos úmidos em baixos níveis, resultando na ampliação e saturação de células convectivas neste setor litorâneo. Esse condicionamento barométrico pode ser explicado pelo aumento da temperatura oceânica local. Como não dispomos de recursos para atestar informações de TSM, pressão atmosférica, ventos e umidade específica nessas áreas, propõe-se essa explicação empírica com base na evidência cientifica já contextualizada.
Essas proposições podem ser enriquecidas pelo fato ocorrido na tarde de 25 de Março na Praia do Calhau em São Luís, onde houve um fenômeno de Tromba d’água- um tornado sobre a água, com efeito giratório “sugando” a água da superfície para cima. O fenômeno transitou no sentido leste-oeste a 300 m da praia, e chamou a atenção dos banhistas no local, causando espanto em muitos.
Ademais, pode-se provar que os maiores volumes diários ocorreram no Calhau, Alcântara, Raposa e Icatu. Na tarde e noite do dia 01/03 um evento excepcional de chuva provocou 141.2 mm no Calhau e 110.4 mm em Raposa. Selecionamos 3 (três) estações pra mostrar as alturas diárias (Gráfico 1).

Gráfico 1: Volumes diários de chuva no ponto Calhau (São Luís) em março/2017

Como mostra os gráficos, as maiores alturas na Ilha e entorno ocorreram nos dia 01, 15, 16, 17 e 25. Observações feitas pelo CPTEC (2017) mostraram o posicionamento da ZCIT causando instabilidades durante todo o mês, principalmente nos dias 15 a 17. Não obstante, os aglomerados convectivos de pequena escala foram marcantes.

Gráfico 2: Volumes diários de chuva no ponto São José -Maioba e Raposa em março/2017


Como indica os gráficos, as maiores alturas na Ilha e entorno ocorreram nos dia 01, 15, 16, 17 e 25. Observações feitas pelo CPTEC (2017) mostraram o posicionamento da ZCIT causando instabilidades durante todo o mês, principalmente nos dias 15 a 17. Não obstante, os aglomerados convectivos de pequena escala foram marcantes.

Quadro  1: Alturas máximas de precipitação em 24 horas na Ilha em Março de 2017.
 
Nome da Estação
Bairro
Volume máximo em 24h (mm)
Data
INMET Itapiracó (convencional)
Turu
56,2
02/03/2017 (Dia 01/03)
PCD INMET
Turu
50,8
17/032017
Destacamento de Controle do Espaço Aéreo
Aeroporto
42,4
15/03/2017
UEMA
Campos Paulo VI
46,25
17/03/2017
Centro de Empreendedorismo UFMA
UFMA
63,4
15/03/2017
Seminário Evangélico do Norte
Planalto-Pingão
40,6
25/03/2017
SEMUSC
Alemanha
43,6
01/03/2017
Academia de Policia Militar Gonçalves Dias
Calhau
141,2
01/03/2017
FIEMA
Cohama
60
01/03/2017
UEB Roseno de Jesus Mendes
Janaína
41,4
17/03/2017
Eletronorte
Sacavém
31,2
17/03/2017
EletronorteSL3
São José Maioba
47,2
17/03/2017
EletronorteSL2
Alumar
46,6
15/03/2017
Sítio Raposa
Raposa
110,4
01/03/2017
Procuradoria Municipal
Paço do Lumiar
61,2
17/03/2017
Prefeitura Municipal
Rosário-MA
44,6
15/03/2017
Jardim de Infância Pequeno Príncipe
Icatu-MA
69,4
30/03/2017
Centro
Alcântara-MA
62,6
17/03/2017


CONCLUSÕES

- No posto São Luís precipitou dentro da média climatológica, com valor de 425 mm, apenas 3 mm ou 0.7% abaixo da Normal. Por outro lado, considerando a superfície da Ilha do Maranhão o volume médio em março foi de 419.8 mm, ou seja, -1.9%, em outras palavras, dentro do Limite Inferior da Faixa Normal, considerando a variabilidade.
- Em março de 2017 verificaram-se maiores taxas de precipitação na borda da Ilha do Maranhão, ou seja, na faixa das praias, mais precisamente entre Ponta d’Areia a Raposa, e entre Ilha de Curupu a São José de Ribamar nas proximidades do povoado Juçatuba. Em Alcântara/MA precipitou o maior volume, com 605.8 mm (+41.5%), seguido do bairro Calhau em São Luís, com 589.4 mm (+37.7%), Raposa/MA com 559.6 mm (+30.7%), e Icatu/MA com 535.4 mm (+25.1%). Por outro lado, nos pontos Sacavém, Cohama, Alemanha, Planalto-Pingão, Aeroporto e Alumar os desvios negativos foram entre -7 a -23%, apresentando volumes abaixo da média climatológica.
- Houve o predomínio da atuação da ZCIT durante todo o mês, com a participação de Aglomerados de Cumulonimbus (CB) (~60-100 km) e CB Isolada, proporcionados pela Termodinâmica local de superfície e Escoamento de Brisas Marítimas.

REFERENCIAS

CORDEIRO, P. W. S. Variações do regime climático de São Luís- MA. Monografia (Graduação) – Curso de Geografia, Universidade Estadual do Maranhão, 2015. 115 p.

CAVALCANTI, I. F. A.; KOUSKY, V.E. Influência da Circulação da Escala Sinótica na Circulação da Brisa Marítima na Costa NNE da América do Sul. INPE-2573-PRE/221, INPE, São José dos Campos (SP), 1982,17p.

GAN, M.A.; KOUSKY, V.E. Vórtices Ciclônicos da Alta Troposfera no Oceano Atlântico Sul. Revista brasileira de Meteorologia. v.1, p.19-28, 1986.

INMET. Normais Climatológicas do Brasil - 1961 a 1990. Brasília, 2009. 289 p.

MARENGO, J. A.; ALVES, L. M.; BESERRA, E. A.; LACERDA, F. F. Variabilidade e mudanças climáticas no semiárido brasileiro. Recursos hídricos em regiões áridas e semiáridas. 1ª ed. Campina Grande, PB: Instituto Nacional do Semiárido, 2011, p. 383-416.

MOLION, L. C. B; BERNARDO, S. O. Uma Revisão da Dinâmica das Chuvas no Nordeste Brasileiro. Revista brasileira de Meteorologia, v. 17, n. 1, p 1-10, 2002.