DISTRIBUIÇÃO
ESPACIAL DAS CHUVAS NA ILHA DO MARANHÃO EM MARÇO DE 2017
Pedro Wallace Serra Cordeiro
Geógrafo
Técnico
em Meteorologia
E-mail:
pedro.crossover@hotmail.com
RESUMO GERAL
No posto São Luís precipitou dentro
da média climatológica, com valor de 425 mm, apenas 3 mm ou 0.7% abaixo da Normal. Por outro lado, considerando a superfície da Ilha do Maranhão o volume
médio em março foi de 419.8 mm, ou seja, -1.9%, em outras palavras, dentro do
Limite Inferior da Faixa Normal, considerando a variabilidade. Em março de 2017
verificaram-se maiores taxas de precipitação nas bordas da Ilha, ou
seja, na faixa das praias, mais precisamente entre Ponta d’Areia a Raposa, e
entre Ilha de Curupu a São José de Ribamar nas proximidades do povoado
Juçatuba. Em Alcântara/MA precipitou o maior volume, com 605.8 mm (+41.5%),
seguido do bairro Calhau em São Luís, com 589.4 mm (+37.7%), Raposa/MA
com 559.6 mm (+30.7%), e Icatu/MA com 535.4 mm (+25.1%). Por outro lado, nos
pontos Sacavém, Cohama, Alemanha, Planalto-Pingão, Aeroporto e Alumar os
desvios negativos foram entre -7 a -23%, apresentando volumes abaixo da média
climatológica. Houve o predomínio da atuação da ZCIT
durante todo o mês, com a participação de Aglomerados de Cumulonimbus (CB)
(~60-100 km) e CB Isolada, proporcionados pela Termodinâmica local de
superfície e Escoamento de Brisas Marítimas.
DESTAQUE DO MÊS
Fenômeno de Tromba d'água é
registrada na orla marítima de São Luís:
Fonte: O Imparcial
No final da
manhã do dia 25 (sábado) uma Tromba d’água foi registrada na orla marítima de São
Luís. O Fenômeno ocorreu na praia do Calhau, chamando atenção de muitos banhistas e pedrestres.
Trombas d’água são mais comuns em áreas com domínio de clima tropical.
1-
INTRODUÇÃO
Março é o mês em que termina o verão, iniciando-se a estação
do outono austral. Nessa ótica sabe-se através da vasta literatura que neste
mês registra-se a maior quantidade de chuvas no sertão nordestino, juntamente
com outras áreas da região (MOLION e BERNARDO, 2002).
O deslocamento meridional da Zona de Convergência
Intertropical (ZCIT) resulta na maior intensidade das chuvas nos meses de
fevereiro a maio, na qual também participam processos convectivos de pequena e
mesoescala, associados ao aquecimento solar diário e às brisas marítimas
(CAVALCANTI e KOUSKY, 1982).
Nesta época, as circulações do verão austral nos trópicos
são influenciadas pelas ondas estacionárias, particularmente sobre a América do
Sul, onde se desenvolve uma circulação quase-estacionária em altos níveis,
chamada Alta da Bolívia (AB). Diretamente ligado à circulação, há um cavado que
eventualmente se fecha, e denomina-se Vórtice Ciclônico de Altos Níveis (VCAN)
do Nordeste do Brasil (GAN e KOUSKY, 1986; MARENGO et al. 2011).
Nessa premissa, observa-se que durante o verão-outono
diversos sistemas meteorológicos de escalas espaciais distintas modulam a
pluviometria na área. Assim, levantam-se dúvidas sobre qual sistema exato pode
produzir isoladamente mais chuvas em prazo de 20 a 30 dias por ex., dado a
extrema variabilidade espacial, sujeita a mecanismos de pequena escala.
Em São Luís a climatologia das chuvas em Março é de 428 mm,
equivalendo a 18.7% das chuvas do ano, sendo o segundo mês mais chuvoso. O
número médio de dias com chuva corresponde a 23 dias, valores estatísticos da
Normal 1961-1990 para o mês no município (INMET, 2009; CORDEIRO, 2015).
É com o intuito de saber a distribuição local de chuvas em
março sob determinadas condições teleclimáticas, que o presente artigo se ocupa
em fazer o levantamento da pluviosidade espacial em março de 2017 na Ilha do
Maranhão, que por sua vez, localiza-se no Golfão Maranhense, litoral do estado
do Maranhão.
2-
ASPECTOS DE GRANDE ESCALA NA ATMOSFERA E NOS OCEANOS TROPICAIS
As águas superficiais na região do Pacífico Equatorial
(Figura 1) apresentaram-se com temperaturas
neutras nas regiões de monitoramento do ENOS, com valores entre -0.2°C a
0,6°C, porém circundadas por anomalias positivas (maior TSM) em toda a faixa
tropical oceânica (NOAA, 2017). No entanto, observou-se desde fevereiro um
padrão incomum: fortes anomalias positivas de 3° a 4°C no Pacífico Leste,
próximo à costa oeste da América do Sul (região conhecida como Niño 1+2);
entretanto, não há estudos que mostrem que essas anomalias influenciam o clima
do Brasil.
A maioria dos modelos de previsão sazonal mostra anomalias
próximas a zero sobre o Pacífico Equatorial, o que indica uma fase neutra do
ENOS (sem El Niño ou La Niña) no trimestre Abril-Maio-Junho de 2017 (CPC/NCEP,
2017).
Fonte:
CPTEC, 2017.
Quanto às chuvas no Brasil, praticamente nada mudou em
comparação aos dois meses anteriores: chuvas abaixo da média no centro-oeste,
sertão nordestino e parte da região sudeste, principalmente em Minas Gerais. Em
Goiás há risco hídrico de seca prolongada, lembrando que em abril as chuvas já
começam a diminuir (figura 2).
Assim sendo, os desvios negativos foram registrados em
grande parte do Brasil, em especial à região Centro-oeste, principalmente no
leste de Mato Grosso e noroeste de Goiás (-200 a -299 mm), além de grande parte
das regiões Norte e Nordeste do país. Em contrapartida, verificaram-se volumes
acima do normal em áreas relativamente menores, tais como, no extremo norte de
Roraima, sudoeste do Amazonas, oeste do Acre, no Mato Grosso do Sul, sudoeste
do Paraná, oeste de Santa Catarina, no Rio Grande Sul, litoral do Paraná, São
Paulo e do Rio de Janeiro, pequenos trechos do leste Paraense, e no oeste do
Maranhão (Figura 3).
Figura 3: Anomalias de precipitação
no Brasil em Março de 2017 (mm).
Fonte:
INPE, 2017
No estado do Maranhão houve volumes relativamente mais
significantes no centro-norte do estado, com ênfase para a mesorregião oeste e
litoral do extremo norte (costa de rias).
No vale do rio Pindaré as chuvas ocorreram mais de 50% acima da média pelo
terceiro mês consecutivo, onde em Santa Inês e Buriticupu os volumes atingiram
460 mm.
No sudeste e sul do Estado choveu abaixo do esperado, com
destaque para Pastos Bons, Loreto e Alto Parnaíba, com volumes entre 50 a 70
mm. Na região de Imperatriz e Porto Franco os índices ocorreram com 100 a 190
mm, abaixo da média em torno de 30% (Figura 4).
Quanto aos sistemas atmosféricos,
houve predomínio da atuação da ZCIT durante todo o mês (Figuras 5 e 6), com a
participação de Aglomerados de Cumulonimbus (CB) (~100 km) e CB Isolada (Sistemas
Convectivos Isolados), proporcionados pela Termodinâmica e Escoamento de Brisas
Marítimas.
Fonte: INPE, 2017.
Fonte: INPE, 2017.
Conhecidamente, a interação da circulação de escala cúmulos (nuvens locais carregadas) com a grande escala (ZCIT) favorece convergência de massa nos baixos níveis, por consequência, ocorre um levantamento forçado até a um nível que torne a parcela instável. Os cúmulos proporciona o calor necessário para a redução de pressão na superfície, organizando a convergência de umidade necessária para a convecção.
3- DISTRIBUIÇÃO DAS CHUVAS NA ILHA
DO MARANHÃO
No
posto São Luís precipitou dentro da média climatológica, com valor de 425 mm,
apenas 3 mm ou 0.7% abaixo da Normal. Por outro lado, considerando a superfície
da Ilha do Maranhão o volume médio em março foi de 419.8 mm, ou seja, -1.9%, em
outras palavras, dentro do Limite Inferior da Faixa Normal, considerando a
variabilidade (Tabela 1). Na Ilha o maior acumulado mensal foi registrado no
Calhau, com 589.4 mm.
Tabela 1: Totais pluviométricos mensais
na Ilha do Maranhão e entorno: Março de 2017.
Nome da Estação |
Bairro/Cidade |
Volume Mensal (mm)
|
Desvio em relação a Normal 1961-90 (%)
|
INMET Itapiracó
|
Turú
|
425
|
-0,7
|
PCD INMET
|
Turú
|
407,6
|
-4,8
|
Destacamento de Controle do Espaço
Aéreo
|
Aeroporto
|
388,4
|
-9,3
|
UEMA
|
Campos
Paulo VI
|
424,75
|
-0,8
|
Centro de
Empreendedorismo UFMA
|
UFMA
|
397,2
|
-7,2
|
Seminário Evangélico
do Norte
|
Planalto-Pingão
|
361,8
|
-15,5
|
SEMUSC
|
Alemanha
|
371,6
|
-13,2
|
Academia de Policia
Militar Gonçalves Dias
|
Calhau
|
589,4
|
+37,7
|
FIEMA |
Cohama
|
355,8
|
-16,9
|
UEB Roseno de Jesus
Mendes
|
Janaína
|
390,6
|
-8,7
|
Eletronorte
|
Sacavém
|
330,2
|
-22,9
|
EletronorteSL3
|
São José/Maioba
|
431
|
+0,7
|
EletronorteSL2
|
Alumar
|
384
|
-10,3
|
Sítio Raposa
|
Raposa
|
559,6
|
+30,7
|
Procuradoria Municipal
|
Paço do Lumiar
|
480,2
|
+12,2
|
Prefeitura Municipal
|
Rosário-MA
|
373,4
|
-12,8
|
Jardim de Infância Pequeno
Príncipe
|
Icatu-MA
|
535,4
|
+25,1
|
Centro (Alcântara)
|
Alcântara-MA
|
605,8
|
+41,5
|
Como mostra a figura 7, neste março houve maiores taxas de precipitação na faixa costeira da Ilha, isto é, na região das praias, entre Ponta d’Areia, Calhau, Raposa, Panaquatira, São José de Ribamar e Icatu. Sendo assim, em todo o norte da Ilha os volumes ocorreram acima da climatologia.
Em
Alcântara/MA precipitou o maior volume, com 605.8 mm (+41.5%), seguido do
bairro Calhau em São Luís, com 589.4 mm (+37.7%),
Raposa/MA com 559.6 mm (+30.7%), e Icatu/MA com 535.4 mm (+25.1%). Por outro
lado, nos pontos Sacavém, Cohama, Alemanha, Planalto-Pingão, Aeroporto e Alumar
os desvios negativos foram entre -7 a -23%, apresentando volumes abaixo da
média climatológica.
Sugere-se
aqui que, as chuvas em maior quantidade ao norte da Ilha -- entre a Ponta d’areia
e Raposa-- ocasionaram-se devido a mudanças no padrão local de ventos, tais
quais àqueles que reforçam o escoamento de Brisas Marítimas. Nos meses
anteriores verificou-se maior (menor) atuação de mecanismos convectivos a
Sudeste (Norte) da Ilha, entretanto, podemos estimar que os Campos de Baixa Pressão superficial inverteram-se:
Menor pressão na área do oceano (entre Alcântara e Raposa), consequentemente
maior o escoamento e convergência dos ventos úmidos em baixos níveis, resultando
na ampliação e saturação de células convectivas neste setor litorâneo. Esse
condicionamento barométrico pode ser explicado pelo aumento da temperatura
oceânica local. Como não dispomos de recursos para atestar informações de TSM,
pressão atmosférica, ventos e umidade específica nessas áreas, propõe-se essa
explicação empírica com base na evidência cientifica já contextualizada.
Essas
proposições podem ser enriquecidas pelo fato ocorrido na tarde de 25 de Março
na Praia do Calhau em São Luís, onde houve um fenômeno de Tromba d’água- um tornado sobre a água, com efeito
giratório “sugando” a água da superfície para cima. O fenômeno transitou no
sentido leste-oeste a 300 m da praia, e chamou a atenção dos banhistas no
local, causando espanto em muitos.
Ademais, pode-se provar que os
maiores volumes diários ocorreram no Calhau, Alcântara, Raposa e Icatu. Na
tarde e noite do dia 01/03 um evento excepcional de chuva provocou 141.2 mm no
Calhau e 110.4 mm em Raposa. Selecionamos 3 (três) estações pra mostrar as
alturas diárias (Gráfico 1).
Como mostra os gráficos, as maiores
alturas na Ilha e entorno ocorreram nos dia 01, 15, 16, 17 e 25. Observações
feitas pelo CPTEC (2017) mostraram o posicionamento da ZCIT causando
instabilidades durante todo o mês, principalmente nos dias 15 a 17. Não obstante,
os aglomerados convectivos de pequena escala foram marcantes.
Como indica os gráficos, as maiores
alturas na Ilha e entorno ocorreram nos dia 01, 15, 16, 17 e 25. Observações
feitas pelo CPTEC (2017) mostraram o posicionamento da ZCIT causando
instabilidades durante todo o mês, principalmente nos dias 15 a 17. Não obstante,
os aglomerados convectivos de pequena escala foram marcantes.
Quadro 1: Alturas máximas de precipitação
em 24 horas na Ilha em Março de 2017.
Nome
da Estação
|
Bairro
|
Volume
máximo em 24h (mm)
|
Data
|
INMET Itapiracó
(convencional)
|
Turu
|
56,2
|
02/03/2017 (Dia 01/03)
|
PCD INMET
|
Turu
|
50,8
|
17/032017
|
Destacamento de Controle do Espaço
Aéreo
|
Aeroporto
|
42,4
|
15/03/2017
|
UEMA
|
Campos Paulo VI
|
46,25
|
17/03/2017
|
Centro de
Empreendedorismo UFMA
|
UFMA
|
63,4
|
15/03/2017
|
Seminário Evangélico
do Norte
|
Planalto-Pingão
|
40,6
|
25/03/2017
|
SEMUSC
|
Alemanha
|
43,6
|
01/03/2017
|
Academia de Policia
Militar Gonçalves Dias
|
Calhau
|
141,2
|
01/03/2017
|
FIEMA
|
Cohama
|
60
|
01/03/2017
|
UEB Roseno de Jesus
Mendes
|
Janaína
|
41,4
|
17/03/2017
|
Eletronorte
|
Sacavém
|
31,2
|
17/03/2017
|
EletronorteSL3
|
São José Maioba
|
47,2
|
17/03/2017
|
EletronorteSL2
|
Alumar
|
46,6
|
15/03/2017
|
Sítio Raposa
|
Raposa
|
110,4
|
01/03/2017
|
Procuradoria Municipal
|
Paço do Lumiar
|
61,2
|
17/03/2017
|
Prefeitura Municipal
|
Rosário-MA
|
44,6
|
15/03/2017
|
Jardim
de Infância Pequeno Príncipe
|
Icatu-MA
|
69,4
|
30/03/2017
|
Centro
|
Alcântara-MA
|
62,6
|
17/03/2017
|
CONCLUSÕES
- No posto
São Luís precipitou dentro da média climatológica, com valor de 425 mm, apenas
3 mm ou 0.7% abaixo da Normal. Por outro lado, considerando a superfície da
Ilha do Maranhão o volume médio em março foi de 419.8 mm, ou seja, -1.9%, em
outras palavras, dentro do Limite Inferior da Faixa Normal, considerando a
variabilidade.
- Em março
de 2017 verificaram-se maiores taxas de precipitação na borda da Ilha do
Maranhão, ou seja, na faixa das praias, mais precisamente entre Ponta d’Areia a
Raposa, e entre Ilha de Curupu a São José de Ribamar nas proximidades do
povoado Juçatuba. Em Alcântara/MA precipitou o maior volume, com 605.8 mm
(+41.5%), seguido do bairro Calhau em São Luís, com 589.4 mm (+37.7%), Raposa/MA com 559.6 mm (+30.7%), e Icatu/MA com
535.4 mm (+25.1%). Por outro lado, nos pontos Sacavém, Cohama, Alemanha,
Planalto-Pingão, Aeroporto e Alumar os desvios negativos foram entre -7 a -23%,
apresentando volumes abaixo da média climatológica.
- Houve o predomínio da
atuação da ZCIT durante todo o mês, com a participação de Aglomerados de
Cumulonimbus (CB) (~60-100 km) e CB Isolada, proporcionados pela Termodinâmica
local de superfície e Escoamento de Brisas Marítimas.
REFERENCIAS
CORDEIRO, P. W. S. Variações do regime climático de São Luís-
MA. Monografia (Graduação) – Curso de Geografia, Universidade Estadual do Maranhão,
2015. 115 p.
CAVALCANTI, I. F. A.; KOUSKY, V.E. Influência da Circulação da Escala Sinótica
na Circulação da Brisa Marítima na Costa NNE da América do Sul.
INPE-2573-PRE/221, INPE, São José dos Campos (SP), 1982,17p.
GAN, M.A.; KOUSKY, V.E. Vórtices
Ciclônicos da Alta Troposfera no Oceano Atlântico Sul. Revista brasileira de Meteorologia. v.1, p.19-28, 1986.
INMET. Normais Climatológicas do Brasil - 1961 a 1990. Brasília, 2009. 289
p.
MARENGO, J. A.; ALVES, L. M.;
BESERRA, E. A.; LACERDA, F. F. Variabilidade
e mudanças climáticas no semiárido brasileiro. Recursos hídricos em regiões
áridas e semiáridas. 1ª ed. Campina Grande, PB: Instituto Nacional do
Semiárido, 2011, p. 383-416.
MOLION, L. C. B; BERNARDO, S. O. Uma
Revisão da Dinâmica das Chuvas no Nordeste Brasileiro. Revista brasileira de Meteorologia, v. 17, n. 1, p 1-10, 2002.