11 de abril de 2017

Chuvas na Ilha do Maranhão em Fevereiro de 2017

DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DAS CHUVAS NA ILHA DO MARANHÃO EM FEVEREIRO DE 2017.

                                                                                                                 Pedro Wallace Serra Cordeiro

Geógrafo
Técnico em Meteorologia (UEMA/Rede E-Tec Brasil)

RESUMO GERAL
O mês de fevereiro foi marcado por chuvas acima do normal nas regiões centro-oeste e norte maranhense, principalmente na baixada maranhense. A análise de imagens de satélite GOES 13 indicou no estado a presença de nebulosidade convectiva associada à ZCIT, ZCOU, a Aglomerados Convectivos de Mesoescala e Sistema Convectivos Isolados (Pequena Escala) . Na Ilha do Maranhão verificou-se que a pluviosidade ocorreu levemente abaixo da normal, visto que, a média na área foi de 318.4 mm, ou seja -14.6%; em São Luís precipitou na categoria próximo à Normal, em que choveu 355.8 mm, ou seja, apenas -4.6% abaixo da média climatológica 1961-1990, que é de 373 mm. Porém, se notou áreas com anomalias positivas (acima do esperado), como no setor sudeste (Guarapiranga) e na região do Calhau/Renascença, este último apresentando desvio percentual de +6.1%. O maior valor mensal foi registrado no Calhau, com 395.6 mm; e o menor índice ocorreu em Raposa/MA, onde choveu apenas 217.2 mm (-41.8%). Nos setores a Sudeste, nas proximidades da Baía de São José, as chuvas ocorreram em grande quantidade pelo terceiro mês consecutivo, em torno de 402.2 mm, sendo que no município de Icatu/MA precipitou 515.4 mm, a maior altura mensal verificada no entorno imediato da Ilha do Maranhão.


1- INTRODUÇÃO

           Fevereiro é um mês na qual os índices pluviométricos aumentam sobre o norte do NEB até por volta de maio, situação verificada concordantemente com o aumento das TSM do Atlântico Tropical Sul durante este período, e devido à descida meridional do equador térmico no outono austral, o que ocasionam o deslocamento da ZCIT sobre tais áreas do Nordeste do Brasil (UVO, 1989).
      Nesse contexto, conforme Cordeiro (2015), a partir de fevereiro as condições oceânicas e termodinâmicas são favoráveis à atuação da ZCIT, aumentando a frequência e intensidade das chuvas na área em estudo. Segundo o autor, em São Luís a média climatológica 1961-1990 de precipitação para o mês é de 373 mm, representando 16.2% das chuvas do ano.
           Climatologicamente o mês também é marcado por chuvas associadas aos Vórtices Ciclônicos de Altos Níveis (VCAN), principalmente quando este atua em conjunto com a ZCIT e Padrão Termodinâmico Local, produzindo grande desenvolvimento vertical de nuvens, ocorrendo chuvas intensas, comumente entre janeiro a março (CORDEIRO, 2015).
         Como pertence unicamente ao verão, fevereiro é influenciado pelo calor e alta umidade, pelas Linhas de Instabilidade Tropicais (de origem costeira), e ao transporte de umidade oriunda da Amazônia, relacionada à expansão da Massa de Ar Equatorial Continental (Ec), a qual umedece os ventos que sopram no litoral (NIMER, 1972; NIMER, 1989).
         Nessas prerrogativas, surgem questionamentos quanto à distribuição espacial de chuvas neste mês em anos variados (como em La Niña ou El Niño, por exemplo) inclusive se há variação pluviométrica significativa na área em estudo- a Ilha do Maranhão.
         O objetivo deste artigo é demonstrar espacialmente os dados de chuva no mês de Fevereiro de 2017 na Ilha do Maranhão, e identificar os sistemas atmosféricos que causaram as chuvas. 

2- ASPECTOS DE GRANDE ESCALA NA ATMOSFERA E NOS OCEANOS TROPICAIS

            Os campos oceânicos relacionados à temperatura da superfície do mar (TSM) nas regiões de monitoramento do fenômeno ENOS (Niño 4, Niño 3.4 e Niño 3) no Oceano Pacífico mostraram sinais de neutralidade. Entretanto, o que chamou atenção foram as fortes anomalias de TSM sobre o Pacífico Leste, na costa do Peru ao Equador (Região conhecida como Niño 1+2), apresentando anomalias positivas de até 4°C, o que convencionaram denominar de El Niño Costeiro (Figura 1).
          Os padrões de temperatura superficial do mar dos modelos numéricos de previsão climática sazonal analisada pelo CPTEC/INPE (2017) indicam uma fase neutra do fenômeno ENOS, ou seja, sem que ocorra El Niño ou La Niña durante o próximo trimestre (março-abril-maio), e assim deve-se manter até junho-julho-agosto de 2017.
Figura 1: Anomalias globais de TSM em Fev/2017. Fonte: INPE/CPTEC, 2017.

        A Oscilação de Madden Julian (Oscilação de 30-dias)- uma onda intrasazonal de convecção tropical que costuma durar de 30 a 60 dias (Sobretudo na América do Sul)- esteve em período ativo desde janeiro com sinal de baixa modulação intrasazonal.
        A análise das pêntadas da ZCIT indicou posicionamento médio oscilando próximo à climatologia, cujo sistema esteve atuando próximo à costa maranhense entre a 3ª e 5ª pêntada (Figura 2), principalmente entre os dias 10 a 19 (NOAA, 2017).  
Figura 2: Pêntadas da posição da ZCIT em Fevereiro/2017. Fonte: NCEP/NOAA, 2017.


            No Brasil as chuvas ocorreram com irregularidade em muitas áreas, em especial ao Centro-Oeste e Sudeste, com pluviometria reduzida no Rio de Janeiro, São Paulo, Goiás, Minas Gerais e Mato Grosso. Por outro lado, no Leste do Pará, e no centro-leste-oeste do Maranhão as chuvas foram acima da média pelo segundo mês consecutivo (Figura 3).
Figura 3: Distribuição das chuvas no Brasil em Fevereiro de 2017.
Fonte: INPE- CPTEC, 2017

               No Maranhão houve destaque para o baixo Pindaré: região de Santa Inês e Bom Jardim, que apresentaram excesso de chuvas, à vista disso, em todo o oeste do estado e baixada maranhense registrou-se volumes acima da média mensal. Por outro lado, a pluviometria ficou muito abaixo do normal na região de Arame, Loreto e Urbanos Santos, com menos de 80 mm. Entre Carolina e Porto Franco (a sudoeste) houve volumes abaixo do esperado para o mês (Figura 4).
Figura 4: Distribuição espacial das chuvas no Maranhão em Fev/2017.

3- ZCOU chegando ao norte maranhense em Fevereiro de 2017?

           Nos dias 10 e 11 um sistema de escala sinótica atravessou a Bahia e atingiu o norte do Maranhão, trata-se da Zona de Convergência de Umidade (ZCOU), uma faixa de nebulosidade que se estende no sentido noroeste-sudeste desde a Amazônia até o sudeste do Brasil e oceano Atlântico Sul, costumando atuar até ao paralelo 4°S de forma episódica (Figura 5); quando a ZCOU atua durante três dias ou mais passa a ser denominada de Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) (REBOITA et al. 2010).
              Conforme mostra a imagem de Satélite GOES 13 canal infravermelho no dia 10/02 às 14:30 UTC, a banda de nebulosidade da ZCOU provocou chuvas no Maranhão (Figura 4), principalmente no oeste do estado, onde a retaguarda do sistema organizou a convecção no litoral, alimentando o pulso da ZCIT. No dia 10/02 grandes volumes foram registrados na Baixada Maranhense, na região de Santa Inês e Zé Doca, Imperatriz e Caxias. Na cidade de Icatu em 24 horas choveu 144 mm, em São Luís 47.6 mm, em Rosário 68.8 mm.
Figura 5: Imagem proveniente do Satélite Geoestacionário GOES 13, canal 4 Infravermelho, às 14:30 UTC do dia 10-Fev-2017. No detalhe verifica-se a ZCOU atuando entre o Pará, Maranhão, Piauí e Bahia.
Fonte: Adaptado de INPE, 2017.
  
            De 1 a 9 de fevereiro o Escoamento Difluente em Altitude e a Termodinâmica Local produziram Sistemas Convectivos Isolados e de Mesoescala  (30 a 75 km) e Mesoescala ß (~80 a 400 km) no Golfão Maranhense. Durante todo o mês a ZCIT esteve atuando provocando chuvas, principalmente no norte (Figura 6).  Embora não posicionada no centro do estado, tal sistema provocava a instabilidade do ar nestas áreas.
         No restante do Maranhão além da Difluência, os processos associaram-se a Confluência de Ventos em Baixos Níveis, e à Termodinâmica Local, que é o Levantamento vertical de parcelas de ar úmido aquecidas, em outras palavras, passagem de calor sensível para calor latente, condições observadas durante quase todo o mês.
       Figura 6: Imagem proveniente do satélite GOES 13 canal  infravermelho, dia 20/02/2017 às 20:00 UTC mostrando a ZCIT sobre as regiões norte e nordeste do Brasil
Fonte: Adaptado de INPE, 2017.


4- CHUVAS OBSERVADAS NA ILHA DO MARANHÃO

           Na Ilha do Maranhão verificou-se que a pluviosidade ocorreu levemente abaixo da normal, visto que a média na área foi de 318.4 mm, ou seja -14.6%; em São Luís precipitou na categoria próximo à Normal, onde choveu 355.8 mm, ou seja, apenas -4.6% abaixo da média climatológica 1961-1990, que é de 373 mm. Porém, se notou áreas com anomalias positivas (acima do esperado), como no setor sudeste (Guarapiranga) e na região do Calhau/Renascença. O maior valor mensal foi registrado no Calhau, com 395.6 mm (+6.1%); e o menor índice ocorreu em Raposa/MA, onde choveu apenas 217.2 mm (-41.8%) (Tabela 1) (Figura 7).
        Assim como nos meses anteriores, as chuvas ocorreram em menor quantidade no Sacavém e na Cohama, com respectivamente 275.8 (-26.1%) e 251.8 mm (-32.5%). 

Tabela 1: Volumes totais de precipitação em Fevereiro de 2017 na Ilha do Maranhão

Nome da Estação

Bairro/Cidade

Volume Mensal (mm)
Desvio em relação a Normal 1961-90 (%)

INMET Itapiracó
Turú
355,8
-4,6




PCD INMET
Turú
334
-10,5




Destacamento de Controle do Espaço Aéreo
Aeroporto
357,6
-4,1




UEMA
Campos Paulo VI
352,5
-5,5




Centro de Empreendedorismo UFMA
UFMA/Bacanga
328,8
-11,8




Seminário Evangélico do Norte
Planalto-Pingão
306
-18,0




SEMUSC
Alemanha
323,2
-13,4




Academia de Policia Militar Gonçalves Dias
Calhau
395,6
+6,1




Fiema
Cohama
251,8
-32,5




UEB Roseno de Jesus Mendes
Janaína
345,6
-7,3




Eletronorte
Sacavém
275,8
-26,1




EletronorteSL3
São José/Maioba
329
-11,8




EletronorteSL2
Alumar
283
-24,1




Sítio Raposa
Raposa
217,2
-41,8




Procuradoria Municipal
Paço do Lumiar
319,8
-14,3




Prefeitura Municipal
Rosário-MA
362,2
-2,9




Jardim de Infância Pequeno Príncipe
Icatu-MA
515,4
+38,2




Centro (Alcântara)
Alcântara-MA
339
-9,1



Fonte: INMET/ INPE/ LABMET UEMA/ ANA

Figura 7: Distribuição espacial das chuvas na Ilha do Maranhão em FEV/2017
Org. CORDEIRO, P.W.S, 2017.

Os dados desde 2015 comprovam que em Raposa/MA têm-se verificado menor quantidade de precipitação anual e sazonal, e neste fevereiro não foi diferente, a pluviosidade esteve reduzida em -41.8%. Na região do Povoado Guarapiranga, os desvios percentuais foram acima de +5% acima da média, mesmo comportamento na região dos bairros Calhau e Renascença (Figura 8).

Figura 8: Desvios de precipitação (%) em Fevereiro de 2017 na Ilha do Maranhão.
Org. CORDEIRO, P.W.S, 2017.


No tocante às maiores aos acumulados diários de chuva na Ilha nota-se os volumes aumentaram no 2ª decêndio, exatamente quando a posição da ZCIT esteve configurada próximo ao litoral. Nos dias 13, 17, 18 e 10 houve os maiores episódios de precipitação na região do Golfão Maranhense, na qual indicam os gráficos 1, 2 e 3, que mostram as maiores alturas diárias. As chuvas aconteciam na maioria dos casos nos horários de 1h a 5h da manhã (com maior frequência), 9h e entre 17h às 18:30h.
Gráfico 1: Série diária de precipitação em FEV/2017 no Aeroporto

Gráfico 2: Série diária de precipitação em FEV/2017 no Calhau

Selecionamos aqui quatro estações de monitoramento para que você observar as distribuições diárias das alturas de chuva na Ilha. Na estação do Calhau os volumes diários foram em maior quantidade, contudo, em Raposa, Cohama e Sacavém as alturas foram menores do que as outras estações do polígono. O quadro 1 permite acompanhar em qual dia ocorreram os maiores volumes.
Gráfico 3: Série diária de precipitação em FEV/2017 em Paço do Lumiar e Raposa

De acordo com a tabela 1, os dias que choveram em maior quantidade foram 10, 13 e 18. Em Alcântara/MA foi registrado a maior altura diária no setor: 145.2 mm no dia 13/02, seguido de Icatu/MA, com 144 mm em 10/02 (Gráfico 1).
Quadro 1: Volumes máximos em 24 horas
Fonte: INPE; INMET;LABMET UEMA; ANA.

5- CONCLUSÕES
- Presença de nebulosidade convectiva associada à ZCIT, ZCOU e a Sistemas Convectivos de pequena a Mesoescala;
- Na Ilha do Maranhão verificou-se que a pluviosidade ocorreu levemente abaixo da normal, visto que, a média na área foi de 318.4 mm, ou seja -14.6%; em São Luís precipitou na categoria próximo à Normal, em que choveu 355.8 mm, ou seja, apenas -4.6% abaixo da média climatológica 1961-1990, que é de 373 mm;
- Chuvas em maiores quantidades no setor sudeste da Ilha, e na região dos bairros Calhau e Renascença, com respectivamente 402.2 mm (+7.8%) e 395.6 mm (+6.1%). Por outro lado, déficts mais expressivos em Raposa, Cohama e Sacavém, com respectivamente 217.2 mm (-41.8%), 251.8 mm (32.5%) e 275.8 mm (-26.1%).


REFERÊNCIAS

CORDEIRO, P. W. S. Variações do regime climático de São Luís- MA. Monografia (Graduação) – Curso de Geografia, Universidade Estadual do Maranhão, 2015. 115 p.

NIMER, E. Climatologia da Região Nordeste do Brasil: Introdução Climatologia Dinâmica. Revista. Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, 34 (2): 3-51, abr/jun. 1972.

__________. Climatologia do Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, 1989.

REBOITA, M. S.; GAN, M.A.; ROCHA, R.P.; AMBRIZZI, T. Regimes de precipitação na América do Sul: Uma revisão bibliográfica. Revista Brasileira de Meteorologia, v.25, n.2, 185 - 204, 2010.

UVO, C. R. B. A Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) e sua relação com a precipitação da Região Norte do Nordeste Brasileiro. Dissertação (Mestrado em Meteorologia). Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, São José dos Campos- SP, 1989. 82 p.