DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DAS CHUVAS NA ILHA
DO MARANHÃO EM FEVEREIRO DE 2017.
Pedro Wallace Serra Cordeiro
Geógrafo
Técnico em
Meteorologia (UEMA/Rede E-Tec Brasil)
RESUMO
GERAL
O mês de fevereiro foi marcado por chuvas acima do normal nas regiões centro-oeste e norte maranhense, principalmente na baixada maranhense. A análise de imagens de satélite GOES 13 indicou no estado a presença de nebulosidade convectiva associada à ZCIT, ZCOU, a Aglomerados Convectivos de Mesoescala e Sistema Convectivos Isolados (Pequena Escala) . Na Ilha do Maranhão verificou-se que a pluviosidade ocorreu levemente abaixo da normal, visto que, a média na área foi de 318.4 mm, ou seja -14.6%; em São Luís precipitou na categoria próximo à Normal, em que choveu 355.8 mm, ou seja, apenas -4.6% abaixo da média climatológica 1961-1990, que é de 373 mm. Porém, se notou áreas com anomalias positivas (acima do esperado), como no setor sudeste (Guarapiranga) e na região do Calhau/Renascença, este último apresentando desvio percentual de +6.1%. O maior valor mensal foi registrado no Calhau, com 395.6 mm; e o menor índice ocorreu em Raposa/MA, onde choveu apenas 217.2 mm (-41.8%). Nos setores a Sudeste, nas proximidades da Baía de São José, as chuvas ocorreram em grande quantidade pelo terceiro mês consecutivo, em torno de 402.2 mm, sendo que no município de Icatu/MA precipitou 515.4 mm, a maior altura mensal verificada no entorno imediato da Ilha do Maranhão.
1- INTRODUÇÃO
Fevereiro é um mês na qual os índices
pluviométricos aumentam sobre o norte do NEB até por volta de maio, situação
verificada concordantemente com o aumento das TSM do Atlântico Tropical Sul
durante este período, e devido à descida meridional do equador térmico no
outono austral, o que ocasionam o deslocamento da ZCIT sobre tais áreas do
Nordeste do Brasil (UVO, 1989).
Nesse contexto, conforme Cordeiro (2015), a
partir de fevereiro as condições oceânicas e termodinâmicas são favoráveis à
atuação da ZCIT, aumentando a frequência e intensidade das chuvas na área em
estudo. Segundo o autor, em São Luís a média climatológica 1961-1990 de precipitação
para o mês é de 373 mm, representando 16.2% das chuvas do ano.
Climatologicamente o mês também é marcado por
chuvas associadas aos Vórtices Ciclônicos de Altos Níveis (VCAN),
principalmente quando este atua em conjunto com a ZCIT e Padrão Termodinâmico
Local, produzindo grande desenvolvimento vertical de nuvens, ocorrendo chuvas
intensas, comumente entre janeiro a março (CORDEIRO, 2015).
Como pertence unicamente ao verão, fevereiro é
influenciado pelo calor e alta umidade, pelas Linhas de Instabilidade Tropicais (de origem costeira), e ao transporte
de umidade oriunda da Amazônia, relacionada à expansão da Massa de Ar
Equatorial Continental (Ec), a qual umedece os ventos que sopram no litoral (NIMER,
1972; NIMER, 1989).
Nessas prerrogativas, surgem questionamentos
quanto à distribuição espacial de chuvas neste mês em anos variados (como em La
Niña ou El Niño, por exemplo) inclusive se há variação pluviométrica significativa
na área em estudo- a Ilha do Maranhão.
O objetivo deste artigo é demonstrar
espacialmente os dados de chuva no mês de Fevereiro de 2017 na Ilha do
Maranhão, e identificar os sistemas atmosféricos que causaram as chuvas.
2-
ASPECTOS DE GRANDE ESCALA NA ATMOSFERA E NOS OCEANOS TROPICAIS
Os campos oceânicos relacionados à temperatura
da superfície do mar (TSM) nas regiões de monitoramento do fenômeno ENOS (Niño
4, Niño 3.4 e Niño 3) no Oceano Pacífico mostraram sinais de neutralidade. Entretanto, o que chamou
atenção foram as fortes anomalias de TSM sobre o Pacífico Leste, na costa do
Peru ao Equador (Região conhecida como Niño 1+2), apresentando anomalias
positivas de até 4°C, o que convencionaram denominar de El Niño Costeiro (Figura 1).
Os padrões de temperatura superficial do mar
dos modelos numéricos de previsão climática sazonal analisada pelo CPTEC/INPE
(2017) indicam uma fase neutra do fenômeno ENOS, ou seja, sem que ocorra El
Niño ou La Niña durante o próximo trimestre (março-abril-maio), e assim deve-se
manter até junho-julho-agosto de 2017.
Figura 1:
Anomalias globais de TSM em Fev/2017. Fonte: INPE/CPTEC, 2017.
A Oscilação
de Madden Julian (Oscilação de 30-dias)- uma onda intrasazonal de convecção
tropical que costuma durar de 30 a 60 dias (Sobretudo na América do Sul)-
esteve em período ativo desde janeiro com sinal de baixa modulação intrasazonal.
A análise das pêntadas da ZCIT indicou
posicionamento médio oscilando próximo à climatologia, cujo sistema esteve atuando
próximo à costa maranhense entre a 3ª e 5ª pêntada (Figura 2), principalmente
entre os dias 10 a 19 (NOAA, 2017).
Figura 2: Pêntadas da posição da ZCIT em Fevereiro/2017. Fonte: NCEP/NOAA, 2017.
No Brasil
as chuvas ocorreram com irregularidade em muitas áreas, em especial ao
Centro-Oeste e Sudeste, com pluviometria reduzida no Rio de Janeiro, São Paulo,
Goiás, Minas Gerais e Mato Grosso. Por outro lado, no Leste do Pará, e no
centro-leste-oeste do Maranhão as chuvas foram acima da média pelo segundo mês
consecutivo (Figura 3).
Figura 3: Distribuição das chuvas no Brasil
em Fevereiro de 2017.
Fonte:
INPE- CPTEC, 2017
No
Maranhão houve destaque para o baixo Pindaré: região de Santa Inês e Bom Jardim,
que apresentaram excesso de chuvas, à vista disso, em todo o oeste do estado e baixada
maranhense registrou-se volumes acima da média mensal. Por outro lado, a
pluviometria ficou muito abaixo do normal na região de Arame, Loreto e Urbanos
Santos, com menos de 80 mm. Entre Carolina e Porto Franco (a sudoeste) houve
volumes abaixo do esperado para o mês (Figura 4).
Figura 4: Distribuição espacial das chuvas no Maranhão em Fev/2017.
3- ZCOU chegando ao norte maranhense em
Fevereiro de 2017?
Nos dias 10 e 11 um sistema de escala sinótica atravessou
a Bahia e atingiu o norte do Maranhão, trata-se da Zona de Convergência de Umidade (ZCOU), uma faixa de nebulosidade
que se estende no sentido noroeste-sudeste desde a Amazônia até o sudeste do
Brasil e oceano Atlântico Sul, costumando atuar até ao paralelo 4°S de forma
episódica (Figura 5); quando a ZCOU atua durante três dias ou mais passa a ser
denominada de Zona de Convergência do
Atlântico Sul (ZCAS) (REBOITA et al.
2010).
Conforme
mostra a imagem de Satélite GOES 13 canal infravermelho no dia 10/02 às 14:30
UTC, a banda de nebulosidade da ZCOU provocou chuvas no Maranhão (Figura 4),
principalmente no oeste do estado, onde a retaguarda do sistema organizou a
convecção no litoral, alimentando o pulso da ZCIT. No dia 10/02 grandes volumes
foram registrados na Baixada Maranhense, na região de Santa Inês e Zé Doca,
Imperatriz e Caxias. Na cidade de Icatu em 24 horas choveu 144 mm, em São Luís
47.6 mm, em Rosário 68.8 mm.
Figura 6: Imagem proveniente
do satélite GOES 13 canal infravermelho,
dia 20/02/2017 às 20:00 UTC mostrando a ZCIT sobre as regiões norte e nordeste
do Brasil
Figura 5: Imagem proveniente do Satélite Geoestacionário GOES 13, canal 4
Infravermelho, às 14:30 UTC do dia 10-Fev-2017. No detalhe verifica-se a ZCOU
atuando entre o Pará, Maranhão, Piauí e Bahia.
Fonte: Adaptado de INPE,
2017.
De 1 a 9
de fevereiro o Escoamento Difluente em
Altitude e a Termodinâmica Local
produziram Sistemas Convectivos Isolados e de Mesoescala
(30 a 75 km) e Mesoescala ß (~80 a 400 km) no Golfão Maranhense. Durante todo o
mês a ZCIT esteve atuando provocando chuvas, principalmente no norte (Figura 6). Embora não posicionada no centro do estado,
tal sistema provocava a instabilidade do ar nestas áreas.
No
restante do Maranhão além da Difluência, os processos associaram-se a Confluência de Ventos em Baixos Níveis, e
à Termodinâmica Local, que é o Levantamento vertical de parcelas de ar úmido
aquecidas, em outras palavras, passagem de calor sensível para calor latente,
condições observadas durante quase todo o mês.
Fonte: Adaptado de
INPE, 2017.
4- CHUVAS OBSERVADAS NA ILHA DO MARANHÃO
Na Ilha
do Maranhão verificou-se que a pluviosidade ocorreu levemente abaixo da normal,
visto que a média na área foi de 318.4 mm, ou seja -14.6%; em São Luís
precipitou na categoria próximo à Normal, onde choveu 355.8 mm, ou seja, apenas -4.6% abaixo da média
climatológica 1961-1990, que é de 373 mm. Porém, se notou áreas com anomalias
positivas (acima do esperado), como no setor sudeste (Guarapiranga) e na região
do Calhau/Renascença. O maior valor mensal foi registrado no Calhau, com 395.6
mm (+6.1%); e o menor índice ocorreu em Raposa/MA, onde choveu apenas 217.2 mm
(-41.8%) (Tabela 1) (Figura 7).
Assim como nos meses anteriores, as chuvas ocorreram em menor quantidade no Sacavém e na Cohama, com respectivamente 275.8 (-26.1%) e 251.8 mm (-32.5%).
Assim como nos meses anteriores, as chuvas ocorreram em menor quantidade no Sacavém e na Cohama, com respectivamente 275.8 (-26.1%) e 251.8 mm (-32.5%).
Tabela 1: Volumes totais de precipitação em Fevereiro de 2017 na Ilha do Maranhão
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Fonte: INMET/ INPE/ LABMET UEMA/ ANA
5- CONCLUSÕES
- Presença de nebulosidade convectiva associada à ZCIT, ZCOU e a Sistemas Convectivos de pequena a Mesoescala;
Figura 7: Distribuição espacial das
chuvas na Ilha do Maranhão em FEV/2017
Org. CORDEIRO, P.W.S, 2017.
Os dados desde
2015 comprovam que em Raposa/MA têm-se verificado menor quantidade de
precipitação anual e sazonal, e neste fevereiro não foi diferente, a
pluviosidade esteve reduzida em -41.8%. Na região do Povoado Guarapiranga, os
desvios percentuais foram acima de +5% acima da média, mesmo comportamento na
região dos bairros Calhau e Renascença (Figura 8).
Figura 8: Desvios de precipitação (%) em Fevereiro de 2017 na Ilha do Maranhão.
Org. CORDEIRO, P.W.S, 2017.
No
tocante às maiores aos acumulados diários de chuva na Ilha nota-se os volumes
aumentaram no 2ª decêndio, exatamente quando a posição da ZCIT esteve
configurada próximo ao litoral. Nos dias 13, 17, 18 e 10 houve os maiores
episódios de precipitação na região do Golfão Maranhense, na qual indicam os
gráficos 1, 2 e 3, que mostram as maiores alturas diárias. As chuvas aconteciam
na maioria dos casos nos horários de 1h a 5h da manhã (com maior frequência),
9h e entre 17h às 18:30h.
Gráfico
1: Série
diária de precipitação em FEV/2017 no Aeroporto
Gráfico 2: Série diária de precipitação em FEV/2017 no Calhau
Selecionamos
aqui quatro estações de monitoramento para que você observar as distribuições
diárias das alturas de chuva na Ilha. Na estação do Calhau os volumes diários
foram em maior quantidade, contudo, em Raposa, Cohama e Sacavém as alturas
foram menores do que as outras estações do polígono. O quadro 1 permite
acompanhar em qual dia ocorreram os maiores volumes.
Gráfico
3: Série
diária de precipitação em FEV/2017 em Paço do Lumiar e Raposa
De acordo
com a tabela 1, os dias que choveram em maior quantidade foram 10, 13 e 18. Em
Alcântara/MA foi registrado a maior altura diária no setor: 145.2 mm no dia
13/02, seguido de Icatu/MA, com 144 mm em 10/02 (Gráfico 1).
Fonte:
INPE; INMET;LABMET UEMA; ANA.
5- CONCLUSÕES
- Presença de nebulosidade convectiva associada à ZCIT, ZCOU e a Sistemas Convectivos de pequena a Mesoescala;
- Na Ilha do Maranhão verificou-se que a
pluviosidade ocorreu levemente abaixo da normal, visto que, a média na área foi
de 318.4 mm, ou seja -14.6%; em São Luís precipitou na categoria próximo à
Normal, em que choveu 355.8 mm, ou seja, apenas -4.6% abaixo da média
climatológica 1961-1990, que é de 373 mm;
- Chuvas em maiores quantidades no setor
sudeste da Ilha, e na região dos bairros Calhau e Renascença, com
respectivamente 402.2 mm (+7.8%) e 395.6 mm (+6.1%). Por outro lado, déficts
mais expressivos em Raposa, Cohama e Sacavém, com respectivamente 217.2 mm
(-41.8%), 251.8 mm (32.5%) e 275.8 mm (-26.1%).
REFERÊNCIAS
CORDEIRO, P. W. S. Variações do
regime climático de São Luís- MA. Monografia (Graduação) – Curso de Geografia,
Universidade Estadual do Maranhão, 2015. 115 p.
NIMER, E. Climatologia da Região
Nordeste do Brasil: Introdução Climatologia Dinâmica. Revista. Brasileira de
Geografia, Rio de Janeiro, 34 (2): 3-51, abr/jun. 1972.
__________. Climatologia do
Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, 1989.
REBOITA, M. S.; GAN, M.A.; ROCHA,
R.P.; AMBRIZZI, T. Regimes de precipitação na América do Sul: Uma revisão
bibliográfica. Revista Brasileira de Meteorologia, v.25, n.2, 185 - 204, 2010.
UVO, C. R. B. A Zona de
Convergência Intertropical (ZCIT) e sua relação com a precipitação da Região
Norte do Nordeste Brasileiro. Dissertação (Mestrado em Meteorologia). Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais, São José dos Campos- SP, 1989. 82 p.